CENÁRIO DO AGRONEGÓCIO MUNDIAL - 1
O cenário do agronegócio mundial, por seus desdobramentos nos sistemas agroalimentares do campo à mesa dos consumidores, resulta de milhares de condicionantes, inclusive as climáticas, que convergem para milhões de estabelecimentos rurais nos continentes da Terra e dos quais 5,175 milhões no Brasil (Censo 2006), e onde a ciência e a tecnologia, associadas aos mercados, se transformam em produtos de origem animal, vegetal e fundamentam também as demandas e ofertas do setor de base florestal.
Vale assinalar num contexto de tamanha magnitude econômica e complexidade ambiental que, em Minas Gerais, com dados de 2014, a silvicultura de eucaliptos e pinus ocupou uma área de 1,54 milhão de hectares plantados em 440 municípios mineiros, o que corresponde a 2,62% do território mineiro e 23,6% das florestas plantadas no Brasil, que abrangem 7,74 milhões de hectares consolidados à época.
O agronegócio do setor de base florestal, somente em Minas Gerais, assegurava 378.640 empregos diretos e indiretos, sendo 140.380 no setor florestal; 67.840 na metalurgia a carvão vegetal e outros 170.420 nos setores de celulose, papel, móveis e outros segmentos, segundo o Anuário 2015 da Associação Mineira de Silvicultura (AMS).
Embora as taxas de urbanização ainda estejam numa escala ascendente, irreversível, também milhões de empreendedores rurais se dedicam às artes de plantar, criar, abastecer, exportar, conservar e preservar os recursos naturais.
A agropecuária é uma prática complexa e difusa em milhões de hectares cultivados e que transita entre os grãos, cereais, oleaginosas, agro energia, carnes, leite, ovos, papel, celulose, aglomerados, madeiras para diversos fins, carvão vegetal, açúcar, frutas, flores, legumes, hortaliças, tubérculos, entre outros, que exige pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica, inovação tecnológica, gestão eficiente, acesso contínuo à informação e ao decifrar também os mercados internacionais. O agronegócio traciona bilhões de dólares em insumos agrícolas, pecuários, de base florestal e requer substantivos gastos em armazenagem e transportes.
O fato econômico será o “Norte” desses vultuosos investimentos nesse mundo com seus atuais 7,3 bilhões de habitantes e com previsão de 9,3 bilhões em 2050, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). São consumidores de alimentos e agro energia e de outras formas de tecnologias, produtos e serviços. Os desafios desse século XXI serão hercúleos ao terem que conciliar também a produção e oferta de alimentos com a sustentabilidade como conceito e prática recorrentes. China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Brasil somam 3,32 bilhões de habitantes ou 45,4% da população mundial, uma extraordinária concentração humana com seu corolário de demandas.
Dados da Secretaria da Agricultura de Minas Gerais, contidos no documento “Perfil do agronegócio mundial”, julho de 2016, revelaram números interessantes e substantivos nos cenários mundiais e esses dados serão corrigidos assim que forem concluídos os levantamentos mundiais de 2016/2017.
O relevante é que são cenários, possibilidades e oportunidades na agro economia. Comparando-se a produção de grãos de 2002/03 com a de 2015/16, fechada, a oferta passou de 1,95 bilhão de toneladas para 2,76 bilhões ou 41,5%. A área cultivada, na mesma comparação, passou de 696,9 milhões de hectares para 785,5 milhões, aumento de 12,76%, o que configurava presumivelmente ganhos de produtividade por hectare cultivado com grãos.
Entretanto existem países com altas produtividades médias, como os EUA, e outros que ainda precisam elevar as suas produtividades médias por unidade de área cultivada e por unidade de pequenos, grandes animais e numa perspectiva de mercados interno e externo.
O milho, trigo e arroz, no conjunto, responderam por 80,3% da produção mundial em 2015/16. No Brasil, o milho e a soja emplacam mais de 80,0% das safras agrícolas. A população mundial evoluiu de 6,3 bilhões de habitantes em 2003 para 7,3 bilhões em 2016 ou 15,8%, e a oferta de grãos 41,5%. Um cenário de aparente abundância, mas existem ainda 785 milhões de faminto nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. O mundo poderá produzir 2,76 bilhões de toneladas de grãos em 2016/17.
Se confirmada a safra agrícola brasileira, 2016/17, de quase 220 milhões de milhões de toneladas de grãos, deverá ser um novo e histórico recorde fundamentado no campo. Mercados, gestão eficiente, pesquisa agropecuária e inovações são convergências indispensáveis. Além disso, boas safras agrícolas reduzem a inflação, controlam o preço da cesta básica e geram empregos e renda nos sistemas agroalimentares.
CENÁRIO DO AGRONEGÓCIO MUNDIAL – II
Essa presumível oferta brasileira de grãos de até 220 milhões de toneladas em 2016/17, ao considerar a recomendação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (ONU/FAO) sobre a disponibilidade mínima de 500 quilos de grãos per capita/ano, seria suficiente para abastecer 440 milhões de pessoas contra uma população atual de 206 milhões de brasileiros ou até os 325,7 milhões de norte-americanos e compulsada em 14 de fevereiro de 2017.
Além disso, comparando-se o ano de 2002 com o de 2016, a produção mundial de carne suína foi de 88,4 milhões de toneladas para 109,3 milhões, um acréscimo de 23,6%, e a da carne de frango, na mesma comparação, avançou de 58,6 milhões de toneladas para 89,7 milhões ou 53,0%.
No caso do milho, o grão mais cultivado no mundo, na safra de 2001/02 para a de 2015/16 a oferta passou de 601,7 milhões de toneladas para 959,7 milhões, mais 59,4%, contra o crescimento da área de plantio de apenas 28,85%. Somente os EUA respondem em média por 35 a 40% da colheita mundial. Mercados e tecnologias explicam esses desempenhos. Segundo ainda estimativas, na safra 2016/17, o milho poderá ultrapassar 1,01 bilhão de toneladas.
Os EUA e a China podem responder por 587,3 milhões de toneladas ou 71,9% da produção mundial. O milho, trigo e o arroz totalizaram 80,3% da disponibilidade mundial de grãos em 2015/16. Os grãos são também compartilhados com os rebanhos de pequenos e grandes animais.
Na cultura da soja a sua produção mundial passou de 184,89 milhões de toneladas na safra 2001/02 para 312,36 milhões na de 2015/16 ou 68,94%, e a expansão da área cultivada, na mesma comparação, foi de 50,41% e houve ganhos de produtividades médias. Estima-se que a colheita da soja na safra 2016/17 atinja 325,95 milhões de toneladas, sendo que os EUA e o Brasil disputam o primeiro lugar, no momento, com pequena vantagem para os EUA. Previsão não é cálculo matemático na agricultura.
A produção de leite fluído, baseado no “Perfil do agronegócio mundial/Seapa” elevou-se de 462,6 milhões de toneladas em 2002 para 583 milhões em 2016, um ganho de 26,0%. Não se deve subestimar, numa abordagem limitada, os papéis e ofertas do agronegócio mundial, inclusive na captura do gás carbônico (CO2) pela fotossíntese, fator de aquecimento climático, e na reciclagem da água bruta usada na agricultura.
Noutro ângulo, a agricultura irrigada terá que vencer a cultura do plantio de sequeiro tradicional e histórica. O Brasil irriga apenas 6,5 milhões de hectares através dos pivôs centrais, predominantes, bem como via aspersão, gotejamento e por gravidade. Estimam-se que a agricultura irrigada nos EUA ocupe 28 milhões de hectares irrigados e 60 milhões na China. O potencial brasileiro na agricultura irrigada é de 30 milhões de hectares, exige um manejo correto do solo e da água, e Minas irriga 550 mil hectares.
O Brasil já é o segundo maior produtor mundial de alimentos e sua presença nos sistemas agroalimentares é mais do que estratégico, é indispensável. É líder nas exportações do suco de laranja, açúcar, café e das carnes bovina e de frango. O Brasil é o maior produtor mundial, Minas Gerais lidera a produção nacional de café e os cafeicultores mineiros respondem também por 70,0% das exportações do café arábica.
Ainda segundo o “Perfil do agronegócio mundial/julho 2016” a produção de café, que é bienal, passou de 116,6 milhões de sacas beneficiadas em 2001/02 para 153,2 milhões ou 31,3%, e com previsão de 155,7 milhões em 2016/17. Entretanto dado da Organização Internacional do Café (OIC), dezembro de 2016, estima a produção mundial, safra 2016/17, em 151,6 milhões de sacas para um consumo de 155,7 milhões. Ganham espaços os cafés com certificação de origem e os capsulados. Desde 1727 se planta café no Brasil.
A produção de açúcar foi de 134,4 milhões de toneladas em 2001/02 para 164,9 milhões em 2015/16, mais 22,6%, com um pico de 178 milhões de toneladas na safra 2012/13. Segundo a Conab (Cia. Nacional de Abastecimento), na safra 2016/17 o Brasil deve produzir 691 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e 37,5 milhões de toneladas de açúcar.
Entre os anos de 2014, 2015 e 2016, os superávits acumulados nas exportações do agronegócio brasileiro foram de US$ 226,58 bilhões e nele contidos os US$ 21,33 bilhões devidos à Minas Gerais, que exporta para 160 países. Apenas para efeito didático, o setor supermercadista mineiro, que ocupa o 2º lugar no Brasil em faturamento bruto, deve atingir 185,8 mil empregos diretos até o final de 2017 e no mínimo 50,0% das vendas são alimentos. Água e alimentos são fundamentais às economias, à vida humana, animal, e intervir na natureza exige muita ciência e tecnologia ao pactuar com os empreendedores rurais presumíveis resultados econômicos, sociais e ambientais.
Noutro ângulo, igualmente importante, o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, no seu artigo “Bem-vindo ao amanhã”, ressaltou; “o futuro já bate à nossa porta através de três forças, que operam de forma veloz e coordenada: urbanização acelerada, aumento da frequência de eventos climáticos extremos e avanços expressivos no desenvolvimento científico e tecnológico, que ocorrem como ondas em sinergia”.
Belo Horizonte, MG.16.02.17
Fonte: Benjamin Salles Duarte - Engenheiro Agrônomo