A histórica safra agrícola
brasileira 2016/17 deve fechar entre 227,9 milhões de toneladas de grãos,
segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e ou 230,3
milhões de toneladas na previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O que é mais importante ressaltar é que essas previsões são
para ampliar as colheitas de grãos, cereais,
oleaginosas, sem falar na oferta de agro energia e de outros produtos
agropecuários e florestais indispensáveis às exportações do agronegócio mineiro
e brasileiro.
Muitas são as causas desse auspicioso desempenho
agrícola resultante de muitos fatores aceleradores, entre os quais; mercados
estimulantes, aumento do consumo de alimentos, adoção de inovações no campo e a
gestão mais eficiente dos estabelecimentos rurais, porém, agregando um quinto
fator externo e poderoso, que foram as condições climáticas favoráveis nos
ciclos das culturas e, entre elas, as do milho e da soja responsáveis por mais
de 80,0% das safras agrícolas desse país continental e também vocacionado para
múltiplas culturas e criações. A safra agrícola mineira deverá atingir o
recorde de 13,7 milhões de toneladas em 2016/17, de acordo com a Conab.
Além disso, bilhões de reais
foram investidos pelos empreendedores rurais nos circuitos do agronegócio,
sistemas agroalimentares em suas diversas etapas, que transcendem as paisagens
rurais mineiras e que abrigam e somam 551.617 estabelecimentos agropecuários,
segundo o Censo Agropecuário de 2006, ainda vigente. Já se passaram 11 anos e a
exigir uma nova leitura estratégica no campo para o planejar, acompanhar,
avaliar, corrigir e consolidar novas políticas agrícolas no País.
Há um caso emblemático, pois o
Brasil reúne condições técnicas e climáticas para produzir trigo em quantidade e
qualidade para o consumo interno e até exportar, num horizonte de tempo, mas
importa anualmente da Argentina 50,0% do trigo, em média, para suplementar a
demanda brasileira. Deve haver um acordo bilateral, à medida em que esse fato
escapa à razoabilidade e ao senso comum. A dependência externa alimentar é um
alerta aos governos. Em 2016, numa área de plantio de 200 hectares, auditada,
em Espumoso (RS), os irmãos Koenig, Evandro e Renato obtiveram 132 sacas de
trigo por hectare (inverno), contra a média nacional de 53 sacas. Um exemplo
vigoroso na triticultura brasileira.
Safras agrícolas abundantes têm
múltiplos efeitos positivos no adotar tecnologias, produtos e serviços, bem
como garantir matérias-primas às agroindústrias, desacelerar o processo
inflacionário, exportar mais, aumentar o consumo de alimentos via queda de
preços, e também fazer circular bilhões de reais nas zonas produtoras e nas
cidades onde a agro economia é a principal fonte de recursos dos municípios. Em
2017, presume-se que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro
transite, a preços correntes, entre R$ 1,50 trilhão e R$ 1,60 trilhão. Previsão
é previsão, não é cálculo matemático.
Na safra agrícola 2016/17 houve
uma considerável troca de conhecimentos, pesquisas, dados e adoção de boas
práticas durante os ciclos das respectivas culturas e cenários onde também
circulam as informações em redes sociais e estratégicas à tomada de decisão no
universo do agronegócio como ciência, prática e sustentabilidade dos recursos
naturais.
Numa abordagem mais ampla, porém,
convergente, no relatório Perspectivas Agrícolas 2015-2024, a FAO e a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reconheceram
que, na próxima década, o País tem potencial para se tornar o maior exportador
de alimentos do mundo, posição hoje ocupada pelos EUA. De acordo com essa
publicação internacional, desde 1990, a produção agrícola brasileira dobrou e a
pecuária triplicou. Superar os EUA, num curto espaço de tempo, jamais será uma
tarefa para amadores e analistas de plantão, otimistas, pois as mudanças se
fazem por processos e nelas contidas centenas de variáveis e até poderosos
interesses econômicos divergentes. Não será um passe de mágica, inclusive com
uma logística operacional deficitária como a do Brasil. Segundo o Departamento
de Comércio dos EUA, o PIB (nominal) norte-americano fechou o ano de 2016 com
US$ 17,7 trilhões ou quase dez vezes o PIB brasileiro no ano passado que
atingiu US$ 1,796 trilhão, considerando-se o dólar médio comercial de US$
3,488.
Ora, a produção de grãos
fundamenta também a produção de carnes, ovos e leite, proteínas consideradas
nobres, o que também alavanca as exportações do agronegócio brasileiro e
abastece o mercado interno. Em nível do agronegócio mineiro, que liminarmente
integra o nacional, nos três primeiros meses de 2017, sem aprofundar em
análises econômicas detalhadas, pois não é objetivo deste artigo, menos
acadêmico, as vendas externas somaram US$1,9 bilhão e os principais produtos
exportados foram; Café, US$ 965,8 milhões ou 51,6%; carnes, US$ 241,7 milhões;
complexo sucroalcooleiro, US$ 190,7 milhões; complexo soja, US$ 220,8 milhões;
e produtos florestais, US$ 141,7 milhões.
A China, Estados Unidos,
Alemanha, Itália e Japão, no conjunto, foram os principais países importadores,
responderam por 50,9% das exportações do agronegócio (Seapa/Mdic), que também
gera 2,5 milhões de empregos diretos nos seus
segmentos e dentro do território mineiro nessa pesquisa havida em 2015 (Cepea/Esalq/USP
– 2015/Seapa).
É preciso compreender e salientar
que somente a safra brasileira de grãos de 2016/17, 7º Levantamento da Conab,
foi fundamentada em 60 milhões de hectares cultivados ou uma área contínua, por
comparação, maior que a do Estado de Minas Gerais, território com 58,6 milhões
de hectares.
Além disso, a magnitude geográfica
da agricultura, pecuária e do setor de base florestal, com suas singularidades,
exigências e ofertas sinaliza que sem mercados atraentes, adoção de tecnologias
em nível de campo, dinamismo dos sistemas agroalimentares, organização da
produção, gestão eficiente e exportações aquecidas, logísticas eficientes, as
coisas poderiam se complicar e comprometer bilhões de dólares em investimentos
públicos e privados. Entretanto, o agronegócio brasileiro tem demonstrado
renovadas provas de vitalidade tecnológica e econômica numa série histórica.
Não é uma profecia acima, muito
pelo contrário, apenas uma perspectiva a exigir rentabilidade econômica das
culturas e criações nos domínios da comercialização por vias internas e nas
exportações do agronegócio. O mercado, não raro, é enigmático e presume
decifrá-lo de forma compartilhada com os atores públicos e privados. O
desenvolvimento sustentável será uma obra solidária e não solitária.
Finalmente nessa limitada
panorâmica brasileira, o pesquisador Eliseu Alves, ex-presidente da Embrapa e
com base no Censo Agropecuário de 2006, revela que apenas 500 mil
estabelecimentos rurais brasileiros, menos de 10,0% dos 5,2 milhões existentes,
responderam por 87,0% do Valor Bruto da Produção (VBP) ou da Renda Bruta, e
destes 24 mil lograram 51,0% do VBP.
Diante desse cenário havido em
2006, o Censo Agropecuário de 2017 poderá fazer emergir outras leituras sobre
essa concentração substantiva e a exigir presumivelmente políticas agrícolas
mais eficientes e acessíveis para os agricultores familiares e os médios
empreendedores rurais para além de discussões e enfoques nitidamente
acadêmicos, embora sejam eles indispensáveis para medir e avaliar, pois quem
não mede, não avalia e nem planeja num mundo em que a única coisa permanente é
a mudança.
Engenheiro agrônomo Benjamin
Salles Duarte* - BH. 18.04.17
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